(Fotos da Internet)
As credenciais de Pedro Martins o antecedem. Vencedor da recente
Socar Guitar Competition, disputada dentro do tradicional Montreux Jazz
Festival, em julho, ele já era bem conhecido entre os músicos
brasileiros por sua técnica e versatilidade. De Hamilton de Holanda a
Milton Nascimento, de Paulinho Moska ao Teatro Mágico, todos recorreram
ao prodígio Pedrinho, principalmente Ellen Oléria, que teve o rapaz em
sua banda por seis anos.
Para seu primeiro disco, “Sonhando Alto” (2013), editado pelo selo
Brasilianos de Hamilton de Holanda, Pedro Martins teve a companhia de
músicos brasilienses como o baixista André Vasconcellos, o pianista
Felipe Viegas e o violonista Daniel Santiago. Seu próximo álbum, a ser
lançado em 2 de outubro no Teatro Brasília, também traz instrumentistas
da cidade.
Como boas companhias não faltam a Pedro Martins, nem falta
experiência em trabalhar em grupo, o fato de ele ter escolhido se
apresentar sozinho no Clube do Choro durante esta semana soa como uma
declaração de peso. Como se, dadas todas essas credenciais, Pedro
Martins agora quisesse que — um minutinho, por favor — as pessoas
pudessem ouvir melhor sua guitarra, e apenas sua guitarra.
O concerto de quarta-feira (23/9) foi aberto por um tema de
Pixinguinha e fechado com “Besame Mucho” (Consuelo Velásquez), dois atos
que estabeleceram um par de balizas afetivo-musicais bem a propósito do
Clube do Choro. Entre abertura e encerramento, algumas composições
próprias de Martins e eventuais adornos eletrônicos executados a partir
de um pequeno teclado com bateria eletrônica e timbres de órgão.
A influência do jazz
Duas composições de Dominguinhos, o homenageado da casa noturna nesta temporada, sugeriram o frescor de arranjos recém-criados: “Lamento Sertanejo” e “Com o Pé no Forró”. Ao apresentar essa última canção, Pedro Martins fez questão de lembrar que a gravação original de Dominguinhos tem a guitarra de Toninho Horta.
Duas composições de Dominguinhos, o homenageado da casa noturna nesta temporada, sugeriram o frescor de arranjos recém-criados: “Lamento Sertanejo” e “Com o Pé no Forró”. Ao apresentar essa última canção, Pedro Martins fez questão de lembrar que a gravação original de Dominguinhos tem a guitarra de Toninho Horta.
Ao acenar para o mestre mineiro do jazz brasileiro, o jovem virtuoso
chamou para si, ainda que de forma involuntária, uma rica genealogia da
guitarra elétrica que remonta ao mestre americano Wes Montgomery. Dono
de um toque límpido, raramente se deixando rasgar por tons mais agudos
ou mais graves, Pedro Martins cabe bem nessa linhagem que parte de
Montgomery e, entre nós, se esparrama por Toninho Horta e também por
Ricardo Silveira (aliás, atração da próxima semana no Clube do Choro).
Wayne Shorter também funciona perfeitamente com Pedro Martins. Embora
o som do guitarrista brasiliense seja altivo e ensolarado, como o do
saxofonista americano, a postura física de Pedrinho sobre o palco ainda
está um tanto tímida e desajeitada. Ele se atrapalha com o microfone na
hora de se dirigir à plateia e toca seu instrumento o tempo todo com o
corpo curvado, a cabeça inclinada para baixo, os olhos fechados. Com o
terreno inteiro livre, se movimenta em pequenos semicírculos de um metro
quadrado.
Na noite de quarta-feira, em apenas dois momentos ele pareceu se
esquecer de estar ali de pé no meio de um tablado e transcender os
protocolos que envolvem um concerto. Justamente durante dois temas de
Wayne Shorter, um após o outro, “Ana Maria” e “Midnight in Carlotta’s
Hair”. Sujeito de dedos lépidos, Pedro Martins também soltou o resto do
corpo, marcando o compasso com o pé, cantando baixinho a melodia, de si
para si, num leve sorriso.
(Texto de Bernado Scartezini do site: http://www.metropoles.com/entretenimento/musica/um-tanto-timido-pedro-martins-se-lanca-em-aventura-solitaria
PEDRO MARTINS